05 janeiro 2011

Homens Bonitos

Eu vi um homem de manhã. Não que isso seja algo de novo, pois não é. Porém, achei interessante como este homem passou tão depressa. Com tanta raiva e astucia. Passou do outro lado da rua. Usava uma calça um tanto quanto apertada e uma camisa largada. É eu notei o homem de verdade. Por que ele era um homem bonito. Eu sempre vou olhar um homem bonito quando ele passa, pois faz parte da minha natureza. Eu sempre vou olhar. Mas este homem bonito de calças justas. Passou olhando vago. Sem notar que pisava torto e que corria demais. Estava com pressa sabe? Estava atrasado. Pois com certeza ele acordara tarde demais pro trabalho então não pôde tomar banho e nem café pela manha. Somente vestiu-se e saiu. Não trocou nem de cueca. Somente saiu olhando o céu e evitando o relógio. Foram alguns poucos segundo que o vi. Ele passou assim de repente e eu um jovem curioso olhando todas as direções possíveis o olhei também.
O que me chamou a atenção naquele homem com pressa de manhã? Tenho total certeza que não foi sua pressa. Lembro-me da barba. Por fazer. Bem leve. Era possível ver a pele por debaixo dos fios grossos e lisos. Ela seguia o desenho do rosto de uma forma espetacular. Correta. Uma barba de fim de tarde de manhã. A sombra celha também era bem chamativa, pelo menos pra mim que de acordo com a natureza olha os homens bonitos que passam pela rua. Retas e invictas. Pareciam cuidadas, penteadas e armadas. Sombra celhas ótimas posso dizer. Os olhos eram fixos, mas tremiam um pouco por causa dos pés tortos que agrediam o chão calmo. Porque o chão é muito calmo. Quieto e calmo. Como o céu, e as montanhas e as árvores. Porém sem as nuvens e o vento que são raivosos. O chão é calmo. O homem bonito não. É inquieto e apressado.

Hoje eu vi um homem me olhando. Ele me olhava com os olhos alegres, e os pés não tremiam contra o chão hoje. Hoje eu acordei tarde demais. O ônibus já havia passado. Todos já estavam em seus devidos lugares. Nos escritórios entende? E eu corria na rua da minha casa com um pouco de frio. Tomando cuidado pro meu cadarço não tocar o asfalto molhado e colocando o cinto na calça que descia cada vez mais. E como eu conseguia segurar o guardachuva? Decidido tomei postura e ganhei dignidade novamente, por poucos segundos. Levei minutos tentando me conter dentro do ultimo ônibus do dia. Eu estava atrasado demais. Não tomei banho e nem café. Não preparei meu cappuccino matinal. Oras. Nem ao menos pude trocar de cueca. E olha que durmo de samba canção. Desci correndo do ônibus no centro da cidade. Isto levaria mais alguns minutos a pé. Corri tanto que minha perna tremia contra o chão que não me parecia calmo. Nem notara isso não fosse um homem olhando para minhas pernas. Ele sorria contente. Estava de folga e não estava de fato atrasado mais. Com uma barba um tanto quanto maior. O que era estranho, pois homens bonitos e com tempo não têm barba. Sombra celhas acusadoras me diziam algo sobre as horas e eu evitava o relógio. Aquele homem era muito bonito. Eu sempre olho e reparo homens bonitos por que faz parte da natureza humana que um homem como eu. Hoje de manha eu vi um homem do outro lado da rua. E este homem, hoje, não tinha pressa. Achei tão engraçado que hoje eu vi que um homem, aquele mesmo homem, me olhava do outro lado na rua. No outro passeio caminhando devagar olhando tudo em sua volta como um jovem curioso.  E eu como um homem de trinta corria para não perder o emprego. E ele me olhou.
Márcio Mattos

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