08 fevereiro 2011

Cappuccino

Segunda-Feira. Onze horas da manha. Eu merecia algo um pouco mais digno que estar somente ali num banco de madeira. Eu sempre estava ali no banco de madeira sobre as palmeiras que saiam do chão de pedra sujo.
Levantei-me demasiado fraco. Meu peito doía. Na verdade meu corpo doía e meu peito sentia a fraqueza da minha alma. Um vazio que eu até então não havia conhecido. Refletido em meus olhos, talvez?
Foi complicado escolher uma mesa numa cafeteria vazia. Eu ganhei tantas opções. Na janela, na parede, no teto, no balcão. Na calçada, no chão. Ou simplesmente na mesa. Escolhi então a mesa. E pedi meu cappuccino. Sim eu queria um cappuccino bem quente ás onze ensolaradas horas da manha. Queria sentir aquele gostinho de gente grande descendo pela minha garganta. Ouvi uma vez meu tutor dizer que criança não toma café, café é para gente grande. Café é uma salvação dos velhos fracos da vida turva. Para aqueles cansados de fim de tarde. Para os sonâmbulos da depressão. Estou velho e então vou tomar café. Vou queimar cada fio de cabelo liso e jovem, delicado e doce, da pele da criança que esta hospedando meu estomago. Brincando com os caroços de melancia. Vou afogar ele no doce gosto do chocolate e no amargo mundo do café. Amargo é a vida, compreende?
Fazia algum tempo que eu estava feliz. Feliz é uma palavra muito grande, porém. Eu estava muito bem, confortável, carinhoso, apaixonado, agradável, receptivo. E todas as coisas que me fazem bem. Que me deixam realmente alegre, porém. Eu descobri que era tudo mais um truque do destino. O que me decepciona. Nunca ouvi a historia de alguém que sofreu e descobriu que isso foi um caminho para felicidade. Normalmente vivo na esperança e descubro depois de anos que foi somente uma mentira. Para que eu comece a sofrer e cair em outras armadilhas. Cada vez eu demoro mais para chegar ao fundo desse abismo. Sei que fico mais forte a cada momento, mas gosto de ser magro e ossudo.
Depois do cappuccino fumei um cigarro. Lembrei-me também dos seus cabelos. E dos meus chinelos. Como eu posso me distrair assim? Que cigarro gostoso. Pena que o dia está ensolarado. Não combina com meu clima melancólico. Somente ao crepúsculo. Raro crepúsculo. Quando estou vivenciando-o me sinto num silêncio. Silêncio do mundo todo. Fumando um cigarro mudo com gosto de café, chocolate e chantilly.

Um comentário:

  1. Amargo não é a vida, amargos são os sentimentos ruins que guardamos e que nos fazem pensar que está tudo perdido...
    Tudo no seu tempo ;)

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