16 fevereiro 2011

Luz sem Sol

O mundo ali girando como se tudo fosse novo. Como se a historia não tivesse uma direção escrita. Tudo esta pronto. Já está lacrado a sete palmos antes de Cristo. Se não fosse como eu digo estaríamos rolando montanha abaixo sem rumo e sem roupa. Enquanto alguns macacos dominavam o nosso planeta. Aquele de pedra amarela, azul e verde.
Como seria se nossos caminhos não houvessem se cruzado. Se hoje não houvesse comigo suas fotos, nossas historias, seus ensinamentos. Suas lembranças. Seu perdão com uma pitada de literatura e canela. O segredo é que eu nunca gostei de canela, somente ao seu lado. Como seria se hoje você não estivesse aqui na cidade comigo? Não sei, ainda, acordar sem seus olhos abertos a me esperar. Não sei esquecer seus perfumes e quando me perfumo. Eu ainda não sei dormir em outro lugar que não em seu colo. Eu não sei deixar de acreditar em seus anseios. Só sei preparar o seu café, mesmo quando tenho sono. Não sei bem como seria uma vida sem a sua presença. Mas sei que muita coisa perderia o sentido natural para mim como se o céu desmoronasse sobre os homens. Como eu tenho visto ultimamente acontecendo com as nuvens laranja, nuvens vermelhas ou nuvens rosa. Homens de preto. De gravata.
Quando o vento vem sereno batendo na varanda eu estou seguro. Pois você fechou as janelas. E deixou as cortinas quietas para me presentear com a lua. Como a neve pode ficar na vidraça. Eu posso ficar no seu colo envolto no calor de seus abraços ate o relógio dançar por todo o salão medieval. A perfeição não nos relaciona. Mas eu passo tanto tempo com este desejo que quando o clima muda em fim e eu fico em casa. Quero estar com você, mesmo na chuva. Mesmo na rua. Mesmo na grama banhada de gelo.
Eu fui mandado ao mundo esculpido por cristais encomendado única e inteiramente a você. Posso me perder por vezes nesse caminho. Do mesmo modo que você sempre se perde e até algumas vezes. Porém do mesmo modo que vim. No mesmo caminho você me esperava. Sou a ultima peça que lhe faltava num quebra cabeça. Sou como o “destino”  em grego do caça palavras que define o seu futuro. E ainda não existe um profissional que traduza meus sentimentos. Contudo a gente sempre vai se encontrar numa ilha de sonho do outro lado das nuvens cinza de chuva. Num paraíso. E você comigo, assim, faz sentido.
O café ficou na mesa intocado. O mesmo ocorreu com o seu jornal. Quem dera poderá eu dizer que intocadas estavam suas mais belas vestes. O requinte se foi. Seus vinis esquecidos diziam-me em silencio de lá do móvel velho que seu avo nos deu de 1958. Onde estavam nossas fotos. Enfermo na cama com as cortinas fechadas e as janelas abertas. Sem ar. Sem cigarro. Sem Papel e sem você. Não haveria dali pra frente algum controle. O sentido perdeu-se na manha quando você não estava na cama. Permaneci ali sempre, quieto, morrendo aos poucos. Não sei mais fazer café, não sei mais mover meus pés. Preciso de algum combustível. Mas no universo não existe uma replica daquilo que era você.
Eu deveria tentar parar de acreditar que nos somos alguém. E que algum dia juntos ficaremos. Sair da ilusão de almas gêmeas definidas pelo destino. Mas fico imaginando como seria a vida sem amar você.
Márcio Mattos

4 comentários:

  1. Já viu o filme de caso com o acaso?
    é bem parecido com esse texto, mostra como seria a vida da mulher se ela não tivesse conhecido o cara,bem legal.

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  2. As vezes ancoramos nossa vida em outra pessoa, e quando essa pessoa vai embora só nos resta o vazio...

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  3. parece que não jeito...
    há-de se viver assim...
    amando...
    e se é amando...
    que seja aos exageros...
    que se curtam imperfeições e perfeições...
    e os discos antigos daqueles sons de vitrola.

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  4. O café que não mais é preparado. O frio do café que nem sequer é adoçado. Mas está lá. Continua lá. Intacto. Intacto.

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