Passei dias, semanas e meses sem querer alguém novamente para me olhar no fundo dos olhos defronte ao meu corpo sentado de pernas cruzadas sentindo as minhas mãos em seus cabelos. Com a noite a nossa volta, a luz leve da janela de madrugada e o frio. A calmaria. Sem essa passei muito tempo para mim. Sendo somente eu e meu cigarro. Minha cidade - a minha mãe.
Essa saudade me mata e cansa meus olhos. Meu corpo fica tão estranho sentando aqui no trabalho. Essa musica perdeu toda a graça e procuro alguma e nunca acho aquela que me fará fechar os olhos e imaginar minha respiração. Quero algo que não idealizo. Quero um sonho que não conheço e um desejo que não imagino. Quero sair daqui com o coração doendo e o medo. Quero tanto chorar, quero tanto algo que eu não sei dizer. Este céu sempre me deixa assim, estranho. Fecho os olhos a contragosto e vejo objetos de sua responsabilidade, vejo sua personalidade. Lembro da noite especial do ultimo fim de semana, não sei o que quero. Não sei o que é certo. Sua amizade me mata, tua ausência me destrói. Tua presença queima minha autoconfiança. Quero-te longe eu mesmo tempo que quero perto e se perto não sei o que faria. Sei que nunca diria o que sinto. Nunca seria capaz de falar-te que depois de tanto acontecido meu coração ainda encolhe-se e contrai no meu peito quando tua face vem a minha visão. Mesmo que de longe quero correr de ti. Fico sem palavras, fico sem rumo. Perco o ritmo do meu dia inteiro somente pensando naqueles poucos míseros segundos que você veio a meu encontro, passou e foi. De cabeça baixa ao longe sumiu. Eu não fiz nada pra impedir. Desde aquela noite em que eu chorei ao teu lado não sou o mesmo.
Desde que acordei para te ver minha alma trocou de corpo ou o corpo de alma. Já não sei. Somente sei que deixou quem eu era num passado que não tenho vontade de reencontrar. Sinto-me mais profissional, mais maduro, mais responsável. Sinto-me homem e me sinto digno. Sinto-me alguém. Apesar de me sentir ainda, jovem demais. Talvez por não souber o que quero. Quem eu sou. Pelo menos não com plena certeza do que digo.
Não gosto de viver essa ilusão. Achar dentro de mim esperança de algo que nunca vai acontecer. Imaginar que por trás de seu sorriso há um sentimento especial por mim. Há! Porque imagino essas coisas ainda, com tanta estrada na ilusão não aprendo nunca.
... Nunca!
Márcio Mattos