Vejo sua imagem no topo de uma árvore. A mais alta num jardim sem flores. Sou apenas uma criança. Aquela solitária que sonha construir uma vida sobre os galhos velhos, contudo, puramente jovens. E como eu gostaria de ser o vento para soprar o topo da árvore. Tua pele.Sou apenas uma criança de um sonho puro. Sou fraco e pequeno.
O tempo pode ser meu maior aliado hoje. Se não fosse pelo mesmo. Deixaria tudo sumir como fumaça. Mesmo que a fumaça não suma por completo. Ainda que com esse pensamento fosse capaz de esquecer-me do ultimo mês. Mas é impossível que minha força seja grande o bastante para matar a essência de um ano de sonhos.
Desde a primeira noite, mesmo sentindo como se não fosse o primeiro suspiro. Quando coberto de estrelas na noite quente e confortável. A observar os olhos de criança num palco vivo de emoções. Ao som de um acordeão que cantava musicas de um tempo antigo. Sentindo cada tecla do piano bravo que toca feroz os segundos em que o circo pegaria fogo. Era somente um sorriso de um palhaço. Tão quieto e inocente com o coração prestes a pular fora da garganta com a emoção dos tambores e o fogo nas argolas. Foi tudo tão magnífico. Ainda sinto ofegante minha respiração.
Foram dias de gloria na fantasia de anéis de cabelo negro em uma pele de porcelana frágil. Silenciosa e Misteriosa. Caminhava calmo. Indo embora. Quando foi a hora que imaginei que o sonho havia acabado. Foi então o fim do mês de maio.
Os ventos uivaram com as chuvas e tempestades de calor das tardes de julho. Quando um festival trouxera vida de volta ao meu pobre coração. Que não tinha sossego desde a primeira ilusão. Antes dos palhaços nos sorrirem e incendiarem nosso coração. Foram-se varias noites até chegar àquela que considero sua. Logo apaguei as luzes e somente pude abrir meus olhos novamente nas noites de São João. Sentindo-me uma criança de dezessete pude sentir uma fraca melodia no murmúrio forte dos espectadores. Ela fugia calma de um sorriso pequeno. Nunca havia chegado tão perto. Nunca haveria de esquecer-me daquele segundo. A tua voz.
Quando os ventos mudam. E sempre o fazem. Dedico-me a paz de um lugar sereno que é mais meu. Um lugar de sonhos e de bancos de madeira. Quando troco o alimento pela doença é um vicio. Posso notar coberto por nuvens e calor solar mais uma vez a pele doce de porcelana dos olhos quietos; calmos e inocentes. Na rotina podia ver meu sonho acontecer por segundos novamente. Tão poucos, contudo, tão longos segundos. Tomavam-me vinte e quatro horas do dia num mundo de suspiros e fechar de olhos. Intenso momento que me dedicava inteiramente a vê-lo passando. Tão perto e sem conhecimento dos meus sentimentos. E de tudo que me acontecia num mundo imaginário que nos rodeava. Ou talvez, apenas a mim.
O mundo calou-se por um instante de coragem. Olhei-o de longe e rabo de olho e tive o então encontro de seus olhos. Foi no mesmo instante que perdi minha visão. E cego acreditei na ilusão em que nos meus sonhos tornavam-se reais. Quanto gostaria de apagar todo esse passado ultrapassa o numero de estrelas no universo. Mas é impossível que minha força seja grande o bastante para matar a essência de um ano de sonhos.
Há castigos piores neste mundo. Privar-me de sua existência por segundos tem sido para mim o maior martírio dos últimos dezoito anos. Situação a qual perco juízo e desconheço a razão. Momentos sem controle, quando penso se é capaz de existir alguma forma de amor nos meus devaneios. Sinto falta daquilo que nunca tive.
Márcio Mattos