16 maio 2011

Filho de João Hernesto

Depois de muito esforço fugi daquela rotina cansativa que já me atormentava há alguns meses. Senti uma boa dosagem de liberdade. Ainda que muito pequena. Foram poucos os minutos que este gosto me fez bem. Alguns poucos segundos a felicidade desapareceram no ar. E eu novamente perdi o foco do que fazia ou o que acontecia. Caminhei.
Convido então um bom amigo para comigo fumar o bom e velho cigarro da tarde de sexta-feira. Ou também de todas as nossas tardes juntos. As tardes de sábado. Sentamo-nos num dos nossos bancos, ou apenas aquele nosso banco de sempre. Nós não lemos um jornal. Nós não tomamos um café. Apenas sentamos, trocamos um cigarro ou outro. Pois temos gostos diferentes que por vezes estranham-se e misturam-se.
_ Frenesi.
_ Sim, é, um animo que eu sinto antes de tudo começar a acontecer.
_ Tudo bem. Eu sei o que significa. É que foi engraçado o uso da palavra.
_ Pois é.
_ Eu não gosto do “Frenesi” entende? Bom, vou tentar explicar melhor. É como se você estivesse aqui. Cansado da vida e de repente tomasse partido de se mudar da cidade. Pra um lugar bem longe. Você entraria no seu carro e veria uma estrada normal. De folhas velhas e grama ruim. Sem uma boa visão. De repente a estrada se fecha e você vê um tonel. Você meche o corpo no banco do seu carro e aperta as mãos no volante. Você está então se preparando pra entrar no túnel, que você não conhece. Você quer conhecer. Porque você não sabe nada sobre ele. Você então entra no túnel e lá dentro é tudo negro. Você começa a ter medo. Porque quer conhecê-lo melhor. Você já o penetrou e ainda assim está perdido num lugar onde você é cego. Não sabe a textura das paredes a sua volta e se tem limo. Não sabe as cores. Não sabe o cheiro. Mas suas mãos estão num volante a 200 km por hora e você está entregando-se de corpo e alma a algo que você não conhece. E neste momento você quer conhecer. Porque você está prestes a tocar no interior mais envolvente. O fim do túnel. Que é a luz. E a luz num lugar escuro e a resposta. E tudo que você tem de bom. É tudo. Neste momento você sente como se tudo fosse dar certo. Que tudo fosse mudar e ter um novo sentido. Você sente que a vida será nova, será boa daquele dia pra frente. Você mete o pé no acelerador e vai com toda a força pronto pra entregar-se mais ainda aquilo que você ainda não conhece, mas no inicio de tudo se propôs a conhecer. Contudo não tinha total certeza e tampouco coragem. Você já se sente completamente feliz e está completamente correto do que quer. Você é forte para encarar aquele momento e então. Bum!
_ Bum?
_ Você atravessa o fim do túnel e vê a mesma estrada de folhas velhas e grama ruim. Sem uma boa visão. Você se entregou ao nada. É então que você percebe que o único momento feliz da sua vida foi o “Frenesi”. Quando você tentava saber, conhecer e tocar em algo tão lindo. Algo tão puro e confortável de ter pra você. Porque quando realmente você toca. Você vê que não é como você sonhou por um instante.
_ Pois é. Eu já passei por essas coisas. Você vai se acostumar. São fases da vida.
_ Pois é. Ultimamente eu não estou escrevendo muito.
_ Eu também não. Preciso escrever. Estou com uma idéia na cabeça. Mas vamos embora que eu tenho uma reunião.
_ Eu vou voltar pro trabalho.


Dedico este àquele que não “É”.
Matt Oliver Castan

02 maio 2011

Vontade

Eu gostaria de estar escrevendo uma carta para você. Mas como é poder imaginar o que eu sinto por alguém que eu não conheço. E eu nunca fui de conhecer alguém tão rápido e instantâneo. Eu quis te conhecer. Naquela noite que sorri para você. Seus olhos brilharam numa alegria que eu nunca verei novamente. Sonhei. Acordei e vivi cada segundo da sua ausência sem ter a esperança da sua presença. O nosso amor não existe. O meu platonismo insistiu em te querer. Eu quis te conhecer ainda mais. Eu quis te querer ainda assim. Ainda que eu não pudesse. Eu ainda quero querer-te mesmo querendo não querer. Ainda quero te esquecer. Mas sinto falta da falta que a vontade de tê-lo me faz. Sou dois em um. E o outro eu é cruel comigo.
Quero lhe falar tudo que sinto por você. Mesmo que isso tudo não exista no mundo real. Fico calmo por saber que estou completamente flutuante no mundo fantasia. E nunca vou dizer que te quero. Nunca vou tentar um beijo que eu sonho. Nunca vou beijar o homem que eu quero conhecer. Nunca vou conhecer. Não nessa vida. Vou te amar em segredo. Ate que este segredo deixe de ser um segredo. Portanto nunca sonhei com você. Nunca o quis. Contudo. Eu quero saber sobre você. E ouvir sua voz para isso. Eu não quero seus beijos. Mas seus abraços me confortam como os de ninguém. Eu não quero tocar sua pele de carne. Mas quero dormir ao seu lado uma noite qualquer. Eu quero esquecer-me de você. Quando eu durmo você toma conta de meus sonhos. Isso pode ser cruel para mim. Isso pode ser verdade. Mesmo não te querendo preciso querer-te para saciar a fome da sua ausência.
Eu nunca te procurei. Eu nunca sonhei contigo. Eu não preciso mais de alguém. Por quê? Pode ser a peça que faltava. Essa pergunta sem resposta. De você ser tudo aquilo que eu sempre quis, mas nunca procurei querer? Eu tentei esquecer um pouco de mim. E esqueci que comecei. Eu morri por alguns dias. Alguns meses, ou algum tempo. Eu me esqueci quanto tempo faz que eu fui esquecer. Eu passei a lembrar sentindo sua essência do meu lado. E eu me lembrei do esquecimento. E no esquecimento lembrei que me esqueci de mim. Não lembro mais por que escolhi esquecer. Quero esquecer isso e viver.
Eu poderia estar escrevendo uma carta. Eu poderia estar deixando de lado o medo e a vergonha. Poderia, talvez, ultrapassar o submeter... Ao seu lado? Nunca vou poder querer-te comigo. Bem sei disso que nunca o tentei. Eu quis te conhecer. Eu quero estar com você. Eu quero sentir um pouco do seu gosto. Eu ainda estou confuso [...]
Márcio Mattos