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Ensaio sobre o amor
NA ALEGRIA E NA TRISTEZA DE MEUS PAIS E IRMÃOS
Onde é que se encontra o valor da luta pelo amor em
um relacionamento nos dias que se seguem? Talvez este raciocínio esteja aqui
somente para que eu possa me justificar ou talvez eu realmente tenha aprendido
isto com meus pais.
Meus pais, casados a mais de vinte anos – e eu sei
que isso é pouco – me mostraram o valor de conservar um relacionamento pelos
tempos em uma forma de perdão. Não pense sequer por um momento que eu vivi uma
vida onde assisti um casal se beijando e trocando caricias, carinhos e elogios
nos bons momentos e raiva, rancor, repulsa e ódio nos maus. Foi tudo bem
balanceado e a forma de expressar certos sentimentos nunca existiu na vida
desse casal. Pelo menos, não para mim ou para meus irmãos. Não minto se disser
que já os vi trocando algumas caricias e alguns xingamentos. Contudo a vida de
amor e ódio do casal se passou mais por traz de nossos olhos e não por censura
das crianças e sim porque eles são essas pessoas de emoções fortes, porém
dosadas.
Quando o sol sorria na vida amorosa e conjugal do
casal. Eram tudo lindos jardins de flores vivas e eles seguiam maravilhosamente
uma boa vida. Um bom jantar, um bom descanso. Mas, nota-se, que estes momentos
nunca na vida são valorizados como deveriam ser e os mesmos derramavam da
balança como água corrente e no momento de vetorizar os pontos quem vai até o
chão é sempre o lado da balança em que é o momento da briga e do ódio. Meus
pais me mostraram isto em momentos em que pude ver com meus próprios olhos a
minha mãe dormir junto de minhas irmãs com olhos marejados ou meu pai no sofá
da sala com o olhar perdido. De costas um para o outro a vida seguia assim e na
mesa do café eu conversava com minha mãe sobre divorcio. Corte este mal pela
raiz, eu pensava. Todavia, e eu sempre me revoltava, eles estavam juntos depois
de um tempo. Sorrindo e se amando. Havia o perdão e as coisas voltavam a
caminhar normalmente. Mas o problema é que nos momentos de ódio elas não
deixaram de caminhar normalmente compreende.
NA ALEGRIA E NA TRISTEZA DE MEUS AMORES E AMIGOS
Nós, jovens de vida e espírito, tão vulgarmente
tolos pensamos que sabemos os meios e as leis de uma “primeira” vida. Ora, pois
até para aqueles - que como eu - acreditam na vida eterna e na reencarnação
sabem que nesta vida somos cobertos com um véu que nos não permite saber
daquilo que já aprendemos em vidas passadas. Somos então novos no jogo da vida
e principalmente e primeiramente do amor. Pensamos que sabemos como lidar com
todas as situações e será que não nos arrependeremos um dia de termos ficado
tão firme em certos orgulhos da vida?
Na vida conjugal de meus pais eu procurei um
reflexo para justificar o porquê de as pessoas amarem e não estarem junto de
seus amores para o resto de suas vidas, na saúde e na doença; na riqueza e na
pobreza; na alegria e na tristeza até que a morte os separe. Certo, concordo
que não é a primeira pessoa que nós nem ao menos sabemos se é o certo que
devemos levar tão a serio – salvo por exceções – contudo eu não estou falando
somente de relacionamento. Estou falando do mais puro amor. Uma vez que alguns
de nós tivemos a sorte de encontrar, conhecer e desfrutar.
Vêm de certo, primeiramente os bons momentos. Em
que o casal vive um amor infinitamente bom e satisfatório. Neste momento os
amantes têm as melhores razões do mundo para serem e estarem juntos. Nada os
compete o erro e nada os separa jamais. Ate o momento em que o jamais encontra
mais uma vez aquele emaranhado de problemas que desequilibra a balança. E volto
nas últimas palavras que citei na primeira parte deste ensaio para que fiquemos
bem esclarecidos; “as coisas voltavam a
caminhar normalmente. Mas o problema é que nos momentos de ódio elas não
deixaram de caminhar normalmente”. O casal não mais se vê disposto a lutar
pelo que importava. Vê o momento da briga, do ódio e de problemas no relacionamento
como um erro irrevogável. Não mais como o momento de amor eterno o momento de
dor é fatal. Na balança as coisas boas não justificam as más e as más não
justificam as boas. Mas então, cadê o voto de “na alegria e na tristeza”? É para mim como ouvir na alegria amo te
eternamente e na tristeza odeio te e esqueço te. Como se os seres fossem
perfeitos. E essa perfeição utópica é um problema. Em certos casos essa pessoa
parti em busca de outro que devera ser perfeito e se não o for partira em busca
de outro e partira em busca de outro e partira em busca de outro e partira
[...]
Quando o certo seria, como casal lidar com o
momento difícil como um casal. Resolve-lo e seguir em frente bem. Isto não é
perder o orgulho, ou se rebaixar. Isto é o amor. É esta a troca de fidelidade
que o casal se propõe. Depois de tanta troca e de uma liberdade imensa em
intimidade. Porque essas pessoas não são mais capazes de por os panos na mesa e
limpar a roupa suja voltando ao que era. Que na verdade, não deixou de ser em
momento algum. É somente a variação da alegria e da tristeza.
Márcio Mattos