03 julho 2012

Já não conseguem gostar de nada... ninguém?



O que fazer quando a brasa já não abre mais a asa
Quando a cinza já não casa
Quando o fogo já não mais ironiza seu jogo
Quando a fogueira já não faz carreira ?

O que fazer ?

O que fazer quando a pergunta já não mais pergunta
e anda defunta
por aí a assombrar quem é só um esqueleto
a dançar com carnes ou vestido de preto ?

O que fazer quando a conta já não paga a si mesma
e precisa de uma muleta que esteja no bolso do atleta
Que a ensina a correr do credor, ou do amor?

O que fazer quando o meteoro anda sem aquela fumaça
de Marlboro e quando o cometa já te aponta
o caminho da desgreta, da desgraça, do rabo-de-saia
do cambalacho que deu treta
da maracutaia de todo aquele que não sabe se ama
nem a quem amar ?

O que fazer quando o calor já não se lembra da estrela
Que o gerou
Ou quando o motor já não sabe do cientista
Que o inventou, e anda por aí a empurrar carros
tão burros quanto cigarros que foram inventados
por artesãos bizarros
e que acendem o fogo que te gelou ?

O que fazer quando a faísca já não serve de isca
para Borges ou Drummond
Quando o incêndio já não causa dispêndio
ao pensamento de Sade ou Lautréamont
Quando a brasa já não arranha com seu cabelo de fogo
ou de asa
em quem acha muito bom ?




Úmero Card’Osso