09 novembro 2011

Cidade Desconhecida


Ele talvez não tenha notado como seu corpo jazia morto pela crueldade que ele tentava fingir não ter vivido. Fingia então estar levemente feliz. Confortável de frente para aquelas janelas com as cortinas de seda. De tanto tempo deitado na cama macia sua coluna começou a doer. Levantou-se. Quatro horas da tarde, um clima delicioso. A luz natural. Usava apenas cueca e camisa. Descalço esticou-se do lado da cama no quarto vazio. Cada estalar de ossos da coluna tinha uma força relaxante unicamente poderosa.
As horas passavam e ele tentava fingir que estava tudo bem. Que ele deveria aguardar mais um pouco, afinal, eram quatro da tarde e não cinco. E além de tudo. Deveria contar alguns minutos de atraso após as cinco da tarde. Contudo não foi capaz de acreditar na mentira que contava a si mesmo e saiu do quarto. Fez o check-out e caminhou até a praça que ficava logo a frente do Hotel.
Alguns minutos que mais pareciam dias girando o telefone nos dedos. Alguns cigarros se foram com a esperança de ele ligar. Ele resolveu então que deveria tomar coragem e ligar. Ligar logo. Ligar e perguntar por quê. Onde você esta? Por que demora tanto? Lembra se de mim, talvez? Lembra-se de ontem?
Vê-se então o jovem apertando com forma o corrimão das escadas, das calçadas enquanto fala ao telefone. Os olhos cerrados e um pouco de incredulidade no pouco do brilho dos olhos que se pode ver.

É novembro e o sol se põe acompanhado de nuvens laranja, vermelhas, amarelas. E reproduz luz na superfície do lago. Para onde ele olha inquieto pensando em pular ou não. Pensando no quanto poderia ser confortável e delicioso perder-se ali dentro. De olhos fechados. Para nunca mais voltar. Seu corpo quase flutua com os pensamentos e a fumaça do cigarro e ele fica ali pensando e fugindo dos pensamentos. Pouco mais vê o tempo passando e nem sabe mais o que pensou.

Márcio Mattos

04 novembro 2011

Somente Por Querer


E eu seria capaz de expressar sentimentos no momento bêbado de amor por alguém? É o que eu me pergunto enquanto no silêncio dessa noite de ilusão eu ouço algumas vozes na minha cabeça. De alguns garotos e de algumas amigas. Até talvez do motorista que me propôs esses últimos minutos ao lado dele, que dorme.
Seria eu um tolo novamente? Por acreditar em alguém que eu pouco conheço? Posso tentar me apaixonar pelo simples fato de valorizar-me como ser neste mundo imundo? Bom seria se eu pudesse fazê-lo. Contudo a força daquele que roubou meu coração aos quatorze anos me faz incapaz de acreditar no céu estrelado que me cobre. São tantos que rodeiam a minha cabeça essa noite. Oh! Céus?!
Posso dizer que ele é um homem que esta brincando sem saber. Mexendo em cada canto do meu ser sem pensar. Fazendo-me viver sem imaginar o quanto eu sou capaz de sonhar. E eu, como um tolo, danço nessa valsa da vida esperando seus olhos. Tentando esquecer o quanto ele pode machucar meu ser. E ele dorme calmo e sereno lá longe. Dentre seus lindos lençóis, que posso imaginá-lo envolvido em branca seda. Seu corpo jovem calmo a cada segundo de sua respiração calma... Calma... Calma.
Quem me dera pudesse. Tê-lo-ia entre meus braços agora se eu fosse o dono da verdade. Se eu fosse dono da razão e do amor. E o amor não fosse tão forte por estar aqui escrito. Ou estar aqui exposto. Ou não estar lá ao teu lado deitado dormindo, aconchegando-o com carinho. Deitando-o em paz. E eu poderia dormir calmo se ele soubesse o que eu tenho vivido em tão pouco tempo, tampouco poderia imaginar o que é que eu sinto aqui dentro. E como sendo eu... sou intenso. Sem notar eu sou romântico. Sem querer eu sou o que não deveria de ser. Sem saber a dor que eu vou sentir por me abrir para alguém que nem ao menos vê o que eu sou capaz de ser.
Não deveras ser piegas ao próximo ingênuo _ Diz meu lado coerente _ Contudo, eu gostaria mesmo é de estar sentindo o cheiro, de perto com minha pele em sua pele, no braço. Sentindo a textura do arrepio. Sentindo teu sentimento dos segundos em que eu degusto sua vida no meu tato. Eu poderia ser mais calmo, eu poderia ser mais cego e eu poderia ser talvez, inconseqüente de estar ali. Porém, o que eu quero é não saber de ser ingênuo e tê-lo. E tê-lo.

Márcio Mattos